sábado, 28 de maio de 2016

Espírito Santo

Há uma ligação íntima entre touradas à corda e festas do Espírito Santo? Os defensores das touradas à corda, nomeadamente aqueles que querem que aquela brutalidade seja considerada património imaterial da humanidade, pretendem fazer crer que não há festas do Espírito Santo sem touradas à corda. Se formos às origens das festas do Espírito Santo em Portugal Continental ou mesmo nas várias ilhas dos Açores facilmente se concluirá que tal não corresponde à verdade. Com efeito, consulte-se os micaelenses Armando Corte Rodrigues ou Aníbal Bicudo e não verão qualquer referência a touradas nas festas do Espírito Santo. De igual modo, sendo a introdução das touradas em São Jorge e na Graciosa datadas do século passado, a partir da Terceira, prova-se que só passou a haver associação entre as duas coisas a partir de então. Na ilha de São Miguel, sendo a reintrodução das mesmas mais recente, também se confirma que só por oportunismo da indústria tauromáquica e falta de fé, de compaixão, de educação e de escrúpulos, por parte dos mordomos de algumas irmandades é que se associam impérios do Espírito Santo a touradas à corda que até, em abono da verdade, não o são. Se formos à ilha Terceira, onde as duas coisas parecem estar intimamente associadas, a verdade é que tal se deve ao oportunismo da indústria tauromáquica que se aproveita da ingenuidade, da deseducação e do vício das pessoas para sacar dinheiro. A confirmar o mencionado, o insuspeito historiador terceirense Frederico Lopes, no seu livro Notas Etnográficas, afirmou que as touradas à corda são o “remate certo de todas as festas, quer religiosas quer profanas”. Como afirmou Frederico Lopes a indústria tauromáquica também associou touradas às festas do Espírito Santo, mas como se verá a seguir nem sempre às de corda. Com efeito, uma consulta ao jornal “O Angrense”, que se publicou na ilha Terceira entre 1836 e 1910, verifica-se que se realizavam touradas de praça para apoiar impérios e claro os ganadeiros e outros. A título de exemplo, abaixo transcrevemos as seguintes notícias: “Realiza-se amanhã, 30, uma corrida de touros, na praça de São João em benefício do Espírito Santo de S. João de Deus” (O Angrense, 3 de agosto de 1874). “Deve realizar-se, no próximo domingo, a corrida de touros, na praça de S. João, em benefício do Império dos Quatro Cantos”(O Angrense, 31 de outubro de 1875) Embora desconheçamos mais pormenores, parece-nos que no passado há algo de diferente com o que se passa hoje. Assim, se no passado as touradas, embora condenáveis, eram de beneficência, isto é, em princípio destinavam-se a financiar os impérios, hoje, com a inclusão das touradas nos programas dos impérios o objetivo é precisamente sacar dinheiro dos irmãos ou da irmandade, que se devia destinar à solidariedade com os mais desfavorecidos, para o entregar a uma indústria anacrónica e imoral. Face ao exposto, por que mantém um silêncio cúmplice a hierarquia da Igreja Católica? Açores, 26 de maio de 2016 José Ormonde

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Vamos brincar à caridadezinha...

Por favor, mostre a sua indignação e peça ao Governo Regional de repudie a realização de uma tourada supostamente para angariação de fundos para um hospital público. Contactos: Para: presidencia@azores.gov.pt, sres@azores.gov.pt, CC: sres-drs@azores.gov.pt, sres-hseit@azores.gov.pt, hseit.adm.secretariado@azores.gov.pt, deputados@alra.pt, acoresmelhores@gmail.com Exmo. Senhor Presidente do Governo Regional dos Açores Exmo. Senhor Secretário Regional da Saúde A Tertúlia Tauromáquica Terceirense e o Núcleo dos Açores da Liga Portuguesa Contra o Cancro anunciaram a realização de uma tourada de praça “de beneficência” para o próximo dia 29 de Maio que foi, muito bem, repudiada pela Direção Nacional da Liga Portuguesa Contra o Cancro. No entanto, depois da recusa desta organização, a verdadeira organizadora da tourada, a Tertúlia Tauromáquica Terceirense, não desiste dela e como forma de lavar a imagem das sangrentas e cada vez mais repudiadas touradas alteram o beneficiário, que passa a ser Hospital de Angra do Heroísmo, nomeadamente o seu Serviço Especializado de Epidemiologia e Biologia Molecular. Considerando que é um insulto ao sentir generalizado da maioria dos açorianos e de todas as pessoas que, em todo o mundo, respeitam todos os seres vivos, associar a tortura de animais a fins e propósitos nobres de beneficência, Considerando que é um gravíssima afronta a todos os açorianos que um hospital do Serviço Regional de Saúde e, por extensão, o Governo Regional dos Açores e a própria Região, figurem publicamente como promotores de uma tourada, Tendo em conta que é possível a angariação de fundos através de práticas pacíficas e consensuais, que não envolvem sofrimento de animais para divertimento de pessoas pouco sensíveis, Pedimos ao Secretário Regional da Saúde, Sr. Luís Mendes Cabral, e ao Presidente do Governo Regional dos Açores, Sr. Vasco Alves Cordeiro, que repudiem, da mesma forma como já fez a Liga Portuguesa Contra o Cancro, a realização desta tourada e não permitam que a Região Autónoma dos Açores, ou um qualquer dos seus serviços públicos, figure como promotora de um espectáculo de tortura animal. Com os melhores cumprimentos Nome

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Tourada cancelada

A Direcção Nacional da Liga Portuguesa Contra o Cancro anulou a decisão do seu Núcleo Regional dos Açores de organizar uma tourada. Parabéns a uma instituição que se rege pelos princípios da ética e do compromisso e que não se deixa submeter aos interesses da indústria tauromáquica, que possui tentáculos em várias organizações. Por favor, escrevam à Direcção Nacional para agradecer a anulação deste atentado contra os animais e contra as pessoas (info@ligacontracancro.pt).
RESPOSTA DA LPCC: Exmo. Senhores, Os meus melhores cumprimentos. Venho informar que a Direcção da Liga Portuguesa Contra o Cancro é absolutamente contra a realização de Touradas ou de espetáculos semelhantes e, que, de imediato, providenciamos no sentido da anulação do espetáculo programado pelo Núcleo Regional dos Açores. Apresentamos as nossas desculpas por tão insólita organização que só por descuido, desatenção e inexperiência foi anunciado, Com a certeza que não pactuamos com este tipo de espetáculo, reiteramos os melhores cumprimentos. Dr. Vítor Veloso Presidente Nacional Liga Portuguesa Contra o Cancro

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Maio de 2016, mês da tortura

Maio de 2016, mês da tortura Tal como manda a tradição e impõe o vício adquirido por muita deseducação que começa quase no berço, a 1 de Maio começa a época oficial das touradas à corda. Hoje, na ilha que as importou e as manteve e que é centro difusor das mesmas, a ilha Terceira, estão marcadas três touradas à corda e este mês realizar-se-ão 35 (trinta e cinco). Segundo um economista que deve ser bom no excell mas má na vida real, isso será um grande contributo para o PIB pois há muitas despesas na realização das ditas, como o pagamento aos ganadeiros, as taxas e licenças cobradas pelas autarquias, as licenças para os foguetes, a gasolina e o gasóleo para os transportes, os custos dos tratamentos dos feridos, se houver mortes há ainda as despesas com os funerais, etc. Enfim, não se cria riqueza, mas é uma alegria e haverá sempre alguém que pagará a crise, distribuindo migalhas pelos mais desfavorecidos e milhões pelos empresários chupistas. Como se isso não bastasse, uma associação que devia ser solidária, mas que é adepta da caridadezinha e pouco açoriana, decide organizar a 29 de maio uma tourada para angariar fundos para a criação de uma bolsa para estudos na área da oncologia. Sobre a sua falta de açorianidade todos sabemos que desde sempre a direção da Liga- Liga Portuguesa Contra o Cancro esteve centrada na ilha Terceira e as delegações noutras ilhas nunca tiveram qualquer autonomia, o que não sabíamos era que, para além da localização, havia ligação à indústria tauromáquica que como se sabe vive da exploração, tortura e morte de animais para divertimento humano. Conhecendo como se conhece os dirigentes terceirenses da Liga e os da Tertúlia Tauromáquica Terceirense, entidades parceiras no infeliz evento, não é difícil concluir que se o objetivo fosse a criação de uma bolsa, eles a título individual ou através das suas empresas possuem meios mais do que suficientes para a criação de três ou quatro bolsas. Mas, a bolsa não é mais do que um pretexto para organizarem mais uma tourada que é o que, no fundo, eles gostam. José Ormonde Açores, 1 de maio de 2016