quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Earthlings (ou o Especiecismo)


Ontem, dia 7 de Dezembro, no âmbito do Ciclo de Documentários ParaDocma, organizado pelo Núcleo de Estudantes da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, NEPCE/UC, foi exibido o documentário - por muitos evitado, e contra mim falo, - EARTHLINGS.

Não vos vou falar detalhadamente do filme mas sim das consequências a curtíssimo prazo que teve e das mudanças a médio-longo prazo que poderá provocar a cada espectador daquela sala.

No documentário está mais do que explicita a total dependência da humanidade em relação aos animais, tocando em temas como a alimentação, vestuário, ciência, desporto, entretenimento, criação de animais domésticos, tradições etc.
A Humanidade por ter sido dotada de raciocínio, acha-se superior. O raciocínio dá-lhe o direito de explorar a sua e outras espécies (?). No entanto, para a esmagadora maioria dos animais-humanos, o raciocínio não parece ser suficiente viver para uma vida de respeito, compaixão e comunhão com o planeta e todos os seus habitantes - seres vivos e seres sencientes (palavra esta tão distante do nosso vocabulário que nem o corrector ortográfico assume).

Não os/as culpo nem os/as critico. Fomos ensinados assim, faz parte da nossa cultura, faz parte da nossa sociedade viver às escuras no sentido em que nos limitados a automatizar os nossos actos e criar hábitos sem questiona-los.

Ontem, as imagens, não isoladas, duras, frias, chocantes e verdadeiras, retratarem bem aquilo que nós, animais-humanos, representamos para os animais-não humanos: Sofrimento, sempre sofrimento.
Para muitos, desde o dia em que nascem até ao dia em que são brutalmente mortos para de algum modo nos servirem.
A violência física e psicológica, a crueldade, a humilhação, a fome, o frio, a tristeza, o medo, as matanças a sangue frio, os crimes e mais crimes e sempre a exploração, fazem parte do dia-a-dia de milhões de animais e nosso porque somos nós que provocamos directa ou indirectamente.

No final da sessão para além do silêncio, o choque, olhares cabisbaixos, algumas lágrimas, sofrimento e remorsos estavam bem patentes na caras de quem lá estava. A tomada de consciência da condição do animal e até da nossa, animais-humanos, tocou a todos/as.
Depois da sessão, quem já sabia um bocadinho ficou a saber mais, quem sabia muito pouco ficou a saber muito, quem até então se tinha recusado a saber agora não tem como apagar o que sabe.
Tornamo-nos todos/as um bocadinho menos ignorantes e deixar de ser ignorante é deixar de ser feliz, é ganhar tormentos, dúvidas, agonias, desesperos mas é também ganhar (e juntar) forças para mudar. E a mudança começa em cada um de nós, com um filme, com menos uma refeição de animais por semana, com a escolha de um produto não testado em animais - boicote a biotérios, com chamadas de atenção para maus tratos, com o cuidado de alimentar um animal faminto na rua em vez de passar por ele com indiferença, com o não financiamento de industrias que vivam da exploração dos animais, humanos e não humanos, etc.
Mas acima de tudo com compaixão e respeito pelo mundo em que vivemos.

Hoje, já sabemos como chega a manteiga que pomos na torrada à nossa mesa, já sabemos que métodos são usados para por a nossa pasta de dentes no mercado, já sabemos de onde e como vem a pele e couro que vestimos, já sabemos como são "preparados" os touros para uma tourada, como são "encenados" os animais de circo, que destino têm os animais de rua, de onde vêm as penas do endredão onde nos deitamos, a lã da camisola que vestimos, os ovos de aviário...
Nós hoje sabemos que somos/fomos cúmplices de todas as atrocidades cometidas contra outra espécie desde o dia em que nascemos, até agora involuntariamente.
Mas nós hoje já não temos desculpa.
Então e agora, vamos continuar a ser cúmplices?


Cassilda Pascoal


Ver filme: aqui



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3 comentários:

  1. Anónimo8.12.10

    Bem vinda à REALIDADE...
    Foi em 28 de Novembro de 2009 que publiquei esta mensagem no meu blogue, com este documentário... Não sei se alguém viu... pois ninguém comentou... Mas também são poucos os seguidores do meu espaço pois o que por lá vou publicando são coisas difíceis de se engolir...
    É um abrir de olhos daqueles que até nos dá vontade de chorar, pois vivemos a maior parte das nossas vidas com a ideia, implantada pela propaganda e pelos mass-media, de que a indústria trata com "dignidade" e, melhor que tudo "Humanidade", os Animais... Nem fazemos isso com os da nossa espécie quanto mais com os outros seres vivos "inferiores"!!!
    Enfim... quem não se sente com isto que vê neste documentário, não é um SER VIVO INTELIGENTE E CONSCIENTE.

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  2. Finalmente conseguiste ver o filme!!!
    E que bom ter sido exibido em colectivo. Qdo vi este filme, já há muito tempo atrás, tive um acesso de ter que dar a conhecer ao número maior de pessoas que eu conseguisse açambarcar. Tive uma urgência tamanha disso.(enfim, era um bocado naif, e continuo...)
    É assim e é terrível a verdade camuflada.
    Este filme para mim foi e é um marco. Depois disto, tive que me equilibrar e reconsiderar o mundo onde vivo, pois somos todos culpados por estas atrocidades. Considero-o muito bem feito a todo o nível e principalmente pela verdade e sensibilidade com que foi feito.
    Para mim, continua a ser o melhor documentário sobre os nossos companheiros.
    Não consigo perceber, quem, que depois de SABER e VER isto tudo, consiga continuar a mentir para si e a ter os mesmos comportamentos.
    É uma total falta de respeito pela vida e humanidade!
    Beijinho!

    "Precisamos de um outro conceito mais sábio e talvez mais místico, em relação aos outros animais e o que nos rodeia.
    Removido da sua natureza universal e vivendo valores fabricados e artificiais, o homem civilizado examina as outras criaturas, através da lente do seu conhecimento e vê uma imagem distorcida. Tratamos os animais com condescendência, pelo destino trágico de terem um cérebro tão inferior ao nosso. E é aí que erramos, pois os outros animais não devem ser medidos pelo homem. Eles movem-se num mundo mais antigo e mais completo do que o nosso, dotados com a extensão dos sentidos que perdemos ou nunca os alcançámos, vivendo de vozes que nunca escutaremos.
    Eles são outras nações, apanhadas connosco na rede da vida e do tempo"

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  3. Já agora, podias por o filme com legendas em português?

    http://www.youtube.com/watch?v=cxbboATlun0

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