quinta-feira, 30 de julho de 2009

Debate sobre "fábrica" de animais para experiências

Opositores e defensores do biotério de Azambuja, considerado um dos maiores centros da Europa de criação de animais para experiências científicas, juntam-se hoje num debate no Porto sobre "O futuro da ciência e experimentação animal".

Do lado da Plataforma de Objecção ao Biotério, Constança Oliveira, psicóloga, afirmou à Agência Lusa que a construção de um biotério "é um autêntico retrocesso", quando as orientações da Comissão Europeia vão no sentido de "reduzir e posteriormente eliminar a experimentação animal em prol de alternativas".

Por outro lado, defendeu que, além dos problemas éticos, as experiências científicas com animais "nem sempre são eficazes porque há diferenças metabólicas e genéticas de espécie para espécie".

João Relvas, investigador do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) na área do desenvolvimento do sistema nervoso, defendeu, por seu lado, que a existência em Portugal de um biotério "é uma mais-valia para a ciência portuguesa", uma vez que permite "desenvolver tecnologia e estudar alternativas que não passem pela investigação com animais".

Sem adoptar uma posição radical, defendeu o uso de alternativas à investigação científica com animais, mas lembrou que o recurso a estes é até agora "a única forma de estudar algumas doenças", como alzheimer, esclerose múltipla e algumas doenças oncológicas.

Para o investigador, o uso de animais deve ser sempre decidido por comissões de ética e sustentado por "regras bem definidas caso a caso".

Os riscos invocados pela Plataforma de Portugal contribuir com a exportação de animais para fins científicos para países onde não haja regras éticas e onde possam ser mal tratados "são pequenos porque os protocolos de acordo entre biotérios estabelecem as condições para sabermos o que vai acontecer aos animais e se são bem tratados", disse João Relvas.

O debate, previsto para as 21:30 no Clube Literário do Porto, é promovido pela Associação de Defesa do Ambiente Campo Aberto e vai ser moderado pela investigadora do IBMC, Anna Olsson.

O projecto do biotério, estimado em 36 milhões de euros, envolve as Fundações Gulbenkian e Champalimaud e a Universidade Nova de Lisboa e vai ter capacidade para entre 20 a 25 mil gaiolas para animais, vindo a criar entre 80 a 100 novos postos de trabalho.

Aí serão fornecidas estirpes de animais de laboratório a universidades, institutos de investigação e empresas farmacêuticas de todo o país e particularmente na área da Grande Lisboa.

O biotério é um projecto privado que vai ser apoiado por fundos comunitários no âmbito do programa de acção aprovado pelo Governo para as regiões do Oeste e da Lezíria e que prevê compensações pela deslocalização da construção do aeroporto na zona da Ota.

(in DN)

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